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quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Em Petrópolis, de quem é a praça, afinal?

Na cidade de Petrópolis, em pleno centro histórico, há uma praça central, de alcunha "liberdade", na qual crianças divertem-se, jovens marcam encontros, senhores e senhoras realizam caminhadas e todos tentam conviver na melhor amostra de que as praças públicas têm de ser um espaço democrático. Contudo, em recente reportagem veiculada em jornal do município, um grupo de moradores do entorno dessa Praça resolveu arbitrar o fim de um festival promovido à cada seis meses, em julho e dezembro, realizado sem incentivos públicos, por um grupo de artistas locais, denominado "Solstício do Som", que pretende fomentar a cultura e a arte das bandas locais, dos poetas, dos artistas petropolitanos. Na sua quinta edição, completada no último dezembro, o festival ocorre com autorização do poder público e num clima de confraternização familiar. Seus organizadores defendem que toda a parte de legislação é respeitada e o evento é pensado para contemplar a maior gama de  músicos e estilos musicais, mostrando que em Petrópolis moram e vivem artistas capazes de produzir arte e que a cidade não é somente um terreno a viver das suas colonizações. 
Acreditamos que o caso exposto nas páginas do jornal trata-se, na verdade, do mais tradicional conflito do capitalismo: a luta de classes!  Porque o entorno da referida praça é habitado por pessoas que podem morar bem e são despreocupadas com as dificuldades ao acesso à cultura. É uma das áreas nobres da cidade.  E nessa mesma praça, anualmente, é realizado o festival da cultura italiana, "Serra Serata", promovido pela prefeitura de Petrópolis; também, um pouco mais além da referida praça, no Palácio de Cristal, realiza-se todo ano a Festa do Colono Alemão, Bauernfest, também do calendário oficial de eventos, que apresentam, igualmente, durante uma semana, até com horários mais estendidos, sons com amplificadores e grande concentração de veículos e turistas no local; sobre esses eventos os referidos moradores nada falam, apenas sobre o festival de música independente e local, o Solstício do Som, que notadamente promove muito menos transtornos do que os demais supracitados.  Além de tudo isso, a realidade da cidade de Petrópolis é a da escassez total de opções de lazer e cultura acessíveis para a população, especialmente a parcela jovem, que encontra nas praças e nos bares suas fontes de divertimento e sociabilidade.
Merecem destaque algumas partes da referida reportagem: 

"Paulo Cezar e outros seis síndicos já aderiram ao movimento contra o Solstício do Som, como é o caso do aposentado Hélio Martins Fiúza, 86 anos, síndico do Condomínio Edifício Barão de Vassouras, que tem aproximadamente 70 moradores. Para ele, o problema poderia ser resolvido com a redução do volume do som e segurança. “Uma vez por mês a banda 1º de Setembro se apresenta no coreto e não incomoda ninguém, porque eles não usam amplificador." (...)
"Na opinião de Paulo Cezar, a melhor solução é mesmo o encerramento do festival. “Esse tipo de apresentação tem que ser feita em teatros”, (...)

"A comerciante Janete Najm, 58 anos, moradora do Condomínio Edifício Barão de Vassouras, é mais uma que quer o fim das apresentações. Ela reclama do barulho que invade seu apartamento: “A tortura começa cedo. Não conseguimos ver televisão ou sequer conversar”. Assim como ela, os aposentados Therezinha, 66 anos, e Manoel Monteiro, 70, são contra o festival. “Quando comprei o imóvel achei que estava indo morar num lugar sossegado. Não sou obrigada a participar do que não gosto e este evento ultrapassa todos os limites”, diz Therezinha, que reclama especialmente do dia do festival que se dedica ao rock."(...) 
://tribunadepetropolis.imprensa.ws/2012/index.phpoption=com_content&view=article&id=43866&catid=70
O fato de não ter havido sequer a primeira opção pelo diálogo partindo dos moradores "incomodados" com os organizadores do evento mostra a vontade de dominar uma área pública que deve ser pertencente à toda a população da cidade; além disso, temos os problemas comuns de ruido em áreas centrais das cidades, principalmente quando concentram em considerável número bares e restaurantes como é o caso do entorno da Praça da Liberdade em Petrópolis. E a praça, de quem é afinal?
A Praça
"A praça é do povo!
como o céu é do condor". 
É o antro onde a liberdade 
cria águias em seu calor. 
Senhor,pois quereis a praça? 
Desgraçada a população! 
Só tem a rua de seu... 
Ninguém vós rouba os castelos, 
Tende palácios tão belos... 
Deixai a terra ao Anteu. 
Mas embalde...que o direito 
Não é pasto de punhal 
Nem a patas de cavalo 
Se faz um crime legal... 
Ah! não há muitos setembros! 
Da plebe doem-se os membros 
No chicote do poder, 
E o momento é malfadado 
Quando o povo ensanguentado 
Diz: já não posso sofrer.
Castro Alves

Momentos do Solstício do Som Inverno 2012
Fotos de Mariana Rocha





3 comentários:

  1. Ótimo texto e belíssima causa. Eu, como pessoa que adora o silêncio, mas também o Solstício do Som, posso dizer que, dos eventos que já passaram por aquela praça, não houveram muitos que carregassem 'bandeira' tão nobre.

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  2. Obrigada, Juliana!
    De fato, o Solstício do Som é um evento com a cara da arte e do povo.
    Saudações!
    E saudações também à Agenda Petrópolis!

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